Jorge Nasseh, Velejador da Classe Oceano, C.E.O. da empresa Barracuda Composite, que produz e fornece matéria-prima para construção com alta tecnologia de embarcações, autor de livros sobre Construção Naval e Moderador no Fórum da Revista Náutica interrompe sua agenda para falar sobre o Carabelli30.
Suas palavras representam um incentivo para as 10 Equipes que já participam das Flotilhas de São Paulo e Santa Catarina.
E fala sobre o projeto do Estaleiro CR Boats de entregar mais quatro barcos em 2013.
Conceito One Design e Rating
“Depois de velejar alguns bons anos na classe IMS vejo que as competicões de one design são mais justas e emocionantes. Você consegue comparar a performance e velocidade dos barcos de uma forma instantânea.
As medições da classe IMS são tremendamente custosas, confusas e falhas na maioria dos casos. Explico meu ponto de vista: qualquer barco, que for medido 10 vezes, vai ter um rating diferente, a cada medição. Mesmo que ela seja feita pelo mesmo Medidor.
O sistema de gerenciamento de regatas da IMS também é terrivelmente complexo, o que dá margem a todo o tipo de dúvida no resultado. Pequena alteração na interpretação das variáveis do gerenciamento pode mudar drasticamente o resultado de uma regata.
Barcos do tipo one design correm pela chegada de bico de proa, independente do gerenciamento, mas não devem estar livres de Medições. Um dos exemplos mais interessantes é a classe Laser, onde os barcos são construídos da mesma forma há algumas décadas. Os cascos não têm nenhuma sofisticação em sua construção e usam os materiais mais simples da época em que foram construídos, se mantêm assim ao longo do tempo. Quem constroi barcos monotipos tem de entender que, desde o primeiro barco até o último, todos devem ser iguais.
Os foils, como a quilha e leme, assim como seus pesos, devem ser preservados ao máximo, para que não haja mudança dos perfis originais da série. Os barcos ainda devem ter uma pesagem obrigatória, inclusive na mastreacao. A estabilidade deve ser também verificada, assim como o rake (caimento do mastro para a popa) e o pitching (movimento de caturro proa-popa) dos barcos. Esta é a forma mais justa de se competir. O último tópico que eu destacaria são as velas, que devem também ser do mesmo fabricante ou aquelas originais da classe, o que inclui os perfis e tipos de tecido e costura.
Quanto ao Material empregado:
Existem barcos monotipos construídos com os mais diversos materiais e isto não significa nenhum problema.O importante é que eles sejam todos iguais.
Hoje em dia a tendência é de se utilizar materiais mais leves mas não incorrer em custos absurdos. Assim, um barco com uma performance aceitável pode ser fabricado em fibra de vidro, pelo sistema de infusão a vácuo, utilizando espuma de PVC, que fornece uma estrutura extremamente rígida e com um custo bem aceitável. O restante do barco, dependendo da classe, pode utilizar mastros, quilha, leme e outras partes em carbono. A utilização de fibra de carbono nestes locais resulta em considerável aumento de resistência e leveza nas embarcações, gerando uma boa performance em várias condições de vento.
No caso do C30, ele tem uma construção extremamente sólida e leve, o que permite um barco de 30 pés navegar a 20 knots e com boa estabilidade. Não são todos os barcos deste comprimento que conseguem tal aceleração,mantendo grande rigidez do conjunto casco e velame. Pequenos detalhes do C30, como a adição da quilha em fibra de carbono e o leme bem balanceado, fornecem uma condição única de navegação com grande manobrabilidade. A construção das peças de carbono do barco mereceu grande atenção por parte do projetista em determinar corretamente os esforços e o processo construtivo.
Classe Carabelli30
Projetista – Velejador – Expert em Construção
Um dos melhores predicados da classe Carabelli30 é certamente o projetista do barco. O Horácio tem um currículo invejável como projetista e velejador. Além disto se tornou um expert em construção de barcos, o que é difícil de se encontrar estas qualidades em qualquer outro projetista. Fazer estas 3 coisas bem feitas é um diferencial em favor da Classe. Em termos de mercado, a classe C30 foi realmente uma surpresa para mim. Boa surpresa. Depois de decidir lançar o estaleiro e construir os primeiros barcos, em poucos meses um conjunto de moldes bem feitos e um time muito bom de funcionários laminou por infusão a vácuo o primeiro barco. Depois disto foi uma sequência de barcos bem construídos que solidificou a classe no Brasil.
Durante muitos anos construindo barcos ou mesmo na função de engenheiro estrutural que tenho hoje, raramente eu presenciei um sucesso tão grande de um barco de Oceano próprio para regatas no Brasil. Em se tratando de um mercado relativamente restrito, a quantidade de barcos produzidos é realmente um feito para a indústria nacional, em termos de produto e qualidade.
Sobre 30 pés: Carabelli ou Soto
Não conheço de perto o Soto 30, então não sou a pessoa correta para dar um diagnóstico final. Os barcos têm um processo construtivo muito semelhante. Talvez o S30 seja uma evolução do HPE25, que embora tenha vindo do mesmo projetista, comporta algumas diferenças, no fato de ser um barco menor e rebocável. Isto reduz muito as possibilidades de se ter bons perfis para a quilha e leme. Comparando as especificacões do C30 e S30, não vejo diferenças marcantes, mas também não conheço a fundo a curva polar dos dois barcos para poder responder pelas performances. Hoje em dia existe uma gama de barcos nesta faixa que competem entre si, mas vejo a produção nacional do C30 como um grande incentivador do mercado de barcos a vela e a facilidade do acesso de um velejador nacional ter um excelente barco sendo produzido aqui.
Entendo que por medida de custo o Soto30 é fabricado na China e isto pode trazer um diferencial de custos e no preço final de venda, mas não acredito que isto seja um fator determinante para quem quer um bom barco de regatas com uma classe solida e com fabricação e assistência local. Isto só já basta para se determinar a escolha.
C30 – Veleiro de Oceano, brasileiro, exclusivo para Regatas e com a tecnologia C.R. Boats já presente em São Paulo, Santa Catarina em rumo ao Rio de Janeiro.
Difícil prever para onde vai a classe C30. Quando o HPE25 começou, demorou algum tempo para que os velejadores saíssem de outras classes para ter um barco destes. Aconteceu a mesma coisa com o J24 enquanto era fabricado ainda no Brasil. Não tenho dúvidas que em pouco tempo a classe C30 estará definitivamente instaurada em vários estados. O estaleiro CR tem feito um trabalho incrível de desenvolver um barco junto com o Horácio Carabelli, construir várias unidades com bastante qualidade e tecnologia e ainda incentivar a classe. Isto por si só já é um feito enorme para um país de bons (e poucos) velejadores.
Do site da classe C30
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