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Foi dada a largada para a segunda perna da Volvo Ocean Race 2014-2015 e nosso especialista em meteorologia conta como vai ser!

Ventos fortes marcaram a largada da 2ª perna da VOR na Cidade do Cabo

Ventos fortes marcaram a largada da 2ª perna da VOR na Cidade do Cabo

Nos próximos 20 a 27 dias (provavelmente), os barcos da VOR percorrerão cerca de 5.430 milhas náuticas, entre Cape Town e Abu Dhabi. Nesta edição, a organização estabeleceu algumas regras para esta perna, sendo que não será permitido passar pelo canal de Moçambique, a oeste de Madagascar, e também não será permitindo velejar a oeste da longitude 60º após a latitude -6º, de forma que os barcos não poderão se aproximar da região do Chifre da África, famoso pela pirataria.

Quem assistiu as primeiras horas de regata, que iniciou hoje às 14h (horário de Brasília), com um pequeno percurso dentro nas proximidades de Cape Town, pôde visualizar um resumo em pequena escala de o que se espera para o para a PERNA 2 da VOR: ventos fortes superiores a 35 nós, calmarias de parar o barco e várias trocas de posições.

Este trecho da regata de volta ao mundo é um dos mais complicados para os navegadores. A começar pelos primeiros dias de regatas, quando decisões importantes deverão ser tomadas: costear a África ou seguir mais ao sul para pegar os ventos fortes de oeste que circundam o globo e assim se afastar da largada? Se, por um lado, mantendo-se próximo à costa percorre-se um caminho mais curto e o mar é mais tranquilo, em termos de ondas, por outro, há muitas zonas de calmarias, em especial pelo fato de ser uma região aonde o vento se bifurca, parte indo para leste e parte indo para oeste.  Já, optando por uma rota mais afastada, os fortes ventos de oeste que sopram contra a direção da corrente das Agulhas (corre de nordeste para sudoeste), produzem um mar extremamente agitado.

Para amanhã (quinta feira) há previsão de que o vento fique forte de sudoeste a mais de 50mn da costa, o que deverá fazer com que a maioria dos navegadores opte por se afastar de terra neste começo, o que de fato está acontecendo.

A decisão de rumar para o norte e abandonar os fortes ventos de oeste, em direção às Arábias, será um desafio este ano. Normalmente espera-se uma sistema de frente fria para vencer a Alta Subtropical que, diferentemente da que ocorre no Oceano Atlântico Sul, no Oceano Índico, fica bem espremida próxima da latitude de -30°, entre os ventos fortes de oeste ao sul e os de leste (alísios) ao norte, numa região de cerca de 5° (~500km). Porém nenhuma frente está prevista para os próximos 6 dias, de forma que os barcos terão que enfrentar a alta pressão com regiões de ventos fracos de alguma forma.

Em seguida à Alta Pressão, já próximo da latitude de -20° (altura de Madagascar), os veleiros costumam encontrar ventos fortes de leste. Nesta época do ano, final da primavera, começa a temporada de furacões na região. E neste ano já tem um furacão por ali! O nome dele é Furacão Adjali e está na longitude 70° (altura da Índia), com rajadas superiores a 80 nós, se deslocando para sudoeste com velocidade média de 4 nós. Assim, poderá atingir a região da provável rota da VOR no sábado ou domingo. Portanto, espera-se muitas emoções no final de semana!

Após esta zona de alísios e furacões, os barcos da VOR enfrentarão os famosos Doldruns (região da Zona de Convergência Inter Tropical) que, nesta época do ano estão localizados em uma extensa região do Oceano Índico, entre as latitudes de -10° e  0°. Nesta região não há gradientes térmicos e os ventos se formam devido às tempestades que são muito frequentes. Assim, os ventos aparecem em forma de rajadas e existem inúmeros buracos com calmarias.

Por último, após ultrapassarem a as proximidades do Equador, os veleiros enfrentarão os fortes ventos de nordeste, provenientes das monções da Índia. Será portanto um longo contravento de vela esquerda com mar agitado até a costa leste de Omã, quando finalmente os barcos deverão entrar no golfo de Omã e rumar para o golfo Pérsico, onde encontram-se os Emirados Árabes Unidos, com capital em Abu Dhabi.

 

João A. Hackerott
Meteorologista

 

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