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Com história de atletas e barcos, livro Velas do Brasil é o mais rico acervo náutico do país

O livro de Peter Siemsen e Beth Laboriau é leitura obrigatória para todos os velejadores.

O livro de Peter Siemsen e Beth Laboriau é leitura obrigatória para todos os velejadores.

A obra fala do desenvolvimento náutico no país, citando, é claro, os nomes que fizeram o esporte crescer, como Eduardo Souza Ramos e o próprio Peter Dirk Siemsen, coordenador do livro e figura importante no cenário esportivo brasileiro

A vela foi o segundo esporte que mais trouxe medalhas olímpicas para o Brasil (17 no total), além de inúmeros títulos mundiais, porém era muito difícil encontrar um material que contasse toda a história do esporte no país. A escritora Maria Elizabeth Labouriau, no entanto, conseguiu reunir muito mais que isso. No livro Velas do Brasil (Essential Idea Editora) ela descreve desde o surgimento da primeira flotilha, a criação do primeiro Yacht Clube e a participação do primeiro brasileiro em um campeonato internacional, até as medalhas olímpicas de 2008, prestando uma justa homenagem àqueles que sempre incentivaram o esporte, como Peter Dirk Siemsen, coordenador e patrocinador do livro, Eduardo Souza Ramos, entre outros.

“O belo e fartamente ilustrado livro, fruto de uma pesquisa histórica rigorosa da Beth, uma das pioneiras na comunicação da modalidade no país, e do Peter, um dos brasileiros de maior destaque na história da vela mundial, como atleta e dirigentes, é obra obrigatória para os que velejam e para todos que se interessam pelo esporte brasileiro e sua memória”, disse Murillo Novaes, jornalista de náutica.

Nas 500 páginas do livro é possível encontrar a história das principais classes do país, como Pinguim, Guanabara, Carioca, Brasil, até as olímpicas como Finn e 470; história de campeonatos e regatas contadas pelos próprios velejadores; um acervo bem grande de fotos, além de um glossário muito rico com termos náuticos e explicações sobre barcos e vento.

“Este é um registro histórico super importante, pois registra o início da vela no Brasil, visita os principais centros vélicos e entrevista vários velejadores. Nele a autora busca mostrar que a história da vela é contínua e segue sendo escrita”, disse Nelson Ilha, velejador, juiz de regata e personagem do livro.

Sobre a autora:

Maria Elizabeth Labouriau nasceu na cidade do Rio de Janeiro. Estudou Ciências Socias na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ-IFCS) e Museologia na Universidade do Rio de Janeiro (UNI-RIO). Foi responsável pela implantação do núcleo “ Navegação” do Espaço Cultural da Marinha. Em seguida, deu início ao trabalho de resgate da memória do Iate Clube do Rio de Janeiro. Sobre essa instituição escreveu “ Iate Clube do Rio de Janeiro – um celeiro de campeões.”

Fascinada pelas coisas do mar, escreveu, Velas do Brasil, a história do iatismo no País. De seu interesse pelas histórias familiares escreveu “Felicitas Siemsen – Simplesmente Elsi. A história de uma mulher à frente de seu tempo. No momento escreve a biografia do advogado e velejador Peter Dirk Siemsen. Mãe de três filhos, Flavia, Pedro e Miguel e avó de duas netas Alice e Olivia, Maria Elizabeth não poderia deixar de escrever para crianças. Resultante dessa paixão urgiram Bichano, o Gato Xadrez; A Pata da Barata; Alice e a Vovó no Jardim dos Passarinhos; O amigo de Sylvia; Meu nome é Milho, E-milho e Alice no Campo – Conhecendo a Natureza.

Locais de venda do livro:

Livraria Cultura
Livraria Saraiva
Livraria Martins Fontes
Livraria Galileu
Livraria da Travessa
Livraria da Vila
Livraria Nobel
Livraria FNAC
Ponto das Letras
Lojas Regatta
Bordado a Bordo

(Mari Peccicacco/PecciCom)

Parem as Máquinas!! Edu Penido e Renato Araújo chegam em 6º na Classe 40 da Transat Jacques Vabre e fazem história!

Edu Penido e Renato Araújo, a bordo do Zetra, entraram hoje na barra do rio Itajaí-Açu e na história da vela nacional. Bravo!

Edu Penido e Renato Araújo, a bordo do Zetra, entraram hoje na barra do rio Itajaí-Açu e na história da vela nacional. Bravo!

Parem as Máquinas!! Edu Penido e Renato Araújo chegam em 6º na Classe 40 da Transat Jacques Vabre e fazem história!

Eduardo Penido, foi o pioneiro do ouro olímpico na vela brasileira, quando, em Moscou 1980, como proeiro de Marcos Soares, faturou a inédita medalha na classe 470 (Alex Welter e Lars Bjorkstron também ganharam o ouro no Tornado naquela ocasião). Desde então, o super boa praça Edu já fez “de um tudo” na vela.

Como skipper do legendário Sorsa colocou seu nome e o do barco nos anais das principais regatas do país, como o responsável pelo 12m Wright on White do saudoso Roger Wright, junto com Lars Grael e companhia, pintou o sete, no caso o três, do KZ-3, no ano do centenário da legendaria classe da Copa América por tantos anos que viu os brasucas faturarem tudo em cima dos gringos de todo o mundo.

Eu, pessoalmente, serei eternamente grato pelo convite para ser o navegador da (hoje “falecida”) máquina de regatas Zing 3 em uma regata uma semana após meu acidente na laje da ilha da Mãe. Ocasião em que Edu pôde exercer sua ironia ao passar por cima da dita laje com apenas 60cm abaixo da quilha para desespero total deste manza que vos fala.

“Camba, Edu” bradei eu com a autoridade dos navegadores desesperados e escaldados. “Eu estou no comando e eu decido, pode ficar tranquilo que me responsabilizo qualquer coisa” retrucou ele. Bem, você pode imaginar que não passou nem pensamento do lado de cá e, por sorte, não porramos a laje. Porque se eu conseguisse bater na maldita duas vezes em apenas uma semana não seria chamado nem pra velejar de Optmist mais! Ufa!!

Agora Edu, junto com o fiel companheiro Renato Araújo, coloca mais uma vez o nome nos livros de história. Pela primeira vez uma dupla brasileira competiu e completou (super bem, por sinal!) uma regata transatlântica de prestígio mundial de vela a poucas mãos (ou “shorthanded” para os anglófilos). Com a chegada, na linha em Itajaí hoje, num digníssimo sexto lugar, dos 14 Classe 40 que largaram em Le Havre, com 6.153 milhas navegadas em 28 dias 10 horas 37 minutos e 30 segundos, a uma média de 9,01 nós, a dupla tupiniquim do Zetra nos enche de orgulho e alegria!! Ave Penido!! Parabéns à dupla dinâmica das atlânticas ondas de coragem e ousadia!

Para quem não sabe, a Transat Jacques Vabre desde 1993 faz a fama dos maiores velejadores de oceano do mundo. A regata que já chegou a Cartagena, Salvador, Puerto Limón, na Costa Rica, e desde a ultima edição aporta na super náutica Itajaí, consagrou, em suas 11 edições, lendas como os tricampeões da prova Franck Cammas (2001, 2003 e 2007 e, nota rápida, que acaba de ser o primeiro a contornar o Horn em uma catamarã sobre fólios), Franck-Yves Escoffier (2005, 2007 e 2009) e Jean-Pierre Dick (2003, 2005 e 2011).

Sempre disputada em duplas, em multicascos e monocascos, a edição de 2015 teve 84 velejadores de 11 países na disputa.  A França como país-sede teve o maior número de atletas, com 66. Ícones da vela de lá como François Gabart, Charles Caudrelier, Pascal Bidégorry, Jean-Luc Nélias e Thomas Coville estavam presentes. Mas, além de França e Brasil, claro, a regata teve representantes de Grã-Bretanha, Estados Unidos, Espanha, Canadá, Hungria, Suíça, África do Sul, Itália e Austrália. Uma galera!

Em 25 de outubro, na França, largaram as quatro classes da disputa, divididas entre monocascos e multicascos, para 5400 milhas de aventura atlântica. A Classe40 (monocascos de 40 pés) teve com 14 duplas, a Multi50 (50 pés) teve quatro, a IMOCA (os famosos Open 60) teve 20 e a Ultime (multicascos de até 102 pés) contou com outras quatro duplas. Deste total, 17 barcos abandoram a prova, sendo 11 IMOCA, um recorde negativo graças ao mau tempo do golfo de Biscaia.

Ao fim, os campeões foram:

Classe: Ultime – até 102 pés
Vencedor: Macif  – François Gabart e Pascal Bidégorry
Data chegada: 06/11/2015
Tempo: 12 dias, 17 horas e 29 minutos

Classe: IMOCA – 60 pés
Vencedor: PRB – Vincent Riou e Sébastien Col
11/11/2015 em 17 dias e 22 minutos

Classe: Multi50 – 50 pés
Vencedor: FenêtréA Prysmian  – Erwan Le Roux e Giancarlo Pedote
11/11/2015  em 16 dias, 22 horas e 29 minutos

Classe: Classe40 – 40 pés
Vencedor: Le Conservateur  – Yannick Bestaven e Pierre Brasseur
18/11/2015 em 24 dias, 8 horas e 10 minutos

Fui!!! Feliz com o Edu e o Renato! Representaram!!

Murillo Novaes

 

Lars Grael e Samuel Gonçalves campeões mundiais de Star 2015

Nas águas de Buenos Aires, Lars Grael, com o auxílio luxuosos de Samuca, fez história novamente. Amém!

Nas águas de Buenos Aires, Lars Grael, com o auxílio luxuosos de Samuca, fez história novamente. Amém!

 

Era o ano de 1998. Na cidade de Vitória, no Espírito Santo, uma competição de vela assistiu a uma inesperada tragédia se desenrolar. O grande campeão deixou a luta pelos pódios e passou a lutar desesperadamente pela vida. Ceifado pela irresponsabilidade criminosa de um condutor de uma lancha aparentemente desgovernada, Lars Grael, o olímpico ídolo de tantos brasileiros perdeu a perna direita e por pouco viu o fim de sua própria existência.

Alvejado, mas também simbolicamente renascido nas mesmas águas turvas da enseada de Camburi, o herói moderno de contornos gregos se tornou ele próprio o protagonista de uma lenda de bravura, resistência e paixão. Surgia ali um novo homem. Diminuído fisicamente de um membro, mas acrescido de uma radical, única e inestimável experiência de vida – e quase morte! –, aquele que era já um modelo se tornou mais. Muito mais!

E hoje, nas mais turvas ainda, porém não menos belas, águas do rio da Prata, em Buenos Aires, um ciclo se fechou. Pouco menos de 20 anos depois daquele fatídico dia, o atleta, o homem, o ídolo, o exemplo Lars Grael cunhou, com uma vitória de alto gabarito na classe de veleiros monotipos de mais alto nível, o outrora olímpico Star, lar e parque de diversões dos maiores campeões do esporte do vento – entre eles os incontestes patrícios Robert Scheidt e seu irmão Torben Grael –, sua trajetória única e sua história emblemática. Ao lado do fiel escudeiro Samuel Gonçalves, se batendo contra os grandes do globo, Lars colocou a mais simbólica estrela que faltava na sua já inacreditável constelação, o título de campeão mundial da classe Star.

Não que nestas quase duas décadas de velejos, retomados poucos meses depois do acidente quase fatal, com uma também inesquecível vitória na sua ancestral Niterói, os títulos e láureas e o respeito infinito dos ditos “normais” por aquele comandante de uma perna só, uma clara desvantagem no elevadíssimo nível do desporto de alto rendimento, não tenham vindo em profusão. Não que sua infindável força e vontade não o tenham levado a lugares em que nem os sonhos, por vezes, alcançam.

De campeonatos continentais e uma dolorida batida na trave no mesmo mundial de Star na Itália aos títulos internacionais na prestigiosa classe 12 Metros, entre eles o do centenário destes barcos-ícones do nosso esporte, e inúmeras vitórias nos veleiros de oceano, mini-oceano e clássicos no Brasil e no mundo, tudo passou pelas mãos vitoriosas de nosso heroico e eficiente (sem o “d” do preconceito com os diferentes) campeão.

No entanto, hoje, neste domingo, oito de novembro do ano da graça de 2015, sei que meu amigo, ídolo, companheiro, chefe, comandante, líder e eterno exemplo alcançou mais que apenas um objetivo traçado com o desprendimento e perseverança dos incomuns. Hoje, Lars se fez ainda maior que a já sua incomensurável grandeza. Hoje ele colocou seu nome no panteão dos humanos que são quase deuses. E com sua alegria, humildade, serenidade e generosidade, compartilha, mesmo sem querer, com todos aqueles que física ou mentalmente são considerados diferentes, o prazer da luta bem travada e vencida.

Sua vitória redime e valida todos os que, por qualquer situação, são diminuídos, vistos com intolerância, desprezados ou vítimas do preconceito estúpido que grassa neste mundo de imperfeitos soberbos e ignorantes, cegos aos seus próprios e inexoravelmente humanos defeitos.

Mais que derrotar ou sobrepujar seus adversários ele superou a si mesmo. E fazendo isso mostrou a infinita capacidade dos homens. A eterna beleza desta desacreditada humanidade que teima em nos brindar com exemplares histórias de grandeza, a despeito de toda iniquidade que nos cerca.

A você Lars, meus sinceros agradecimentos por estar entre nós nos iluminando com sua presença. Nos mostrando o quanto são ínfimas nossas dores e fraquezas diante do imenso desafio que é viver. Hoje você é mais que só um campeão do mundo. Você é um campeão e é também um mundo inteiro! E mais que parabéns gostaria de dizer apenas: obrigado! Muito obrigado!

Murillo Novaes

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